Tem gente que pensa que quando alguém sacrifica coisas para lutar na rotina pelos nossos objetivos - necessários, embora grandes - esqueça o mundo e as coisas abstratas que o povoam, no seio das pessoas - aquele essencial, que é invisível aos olhos - e se torne um ser materialista e egoísta. Bem, pode até acontecer que muitos fiquem assim ensimesmados, mas não acredito que seja assim.
Talvez as pessoas não saibam ou não parem para pensar na quantidade de conhecimentos que o espírito pode adquirir em alguns anos bem vivenciados de uma rotina dedicada – se vivenciados com atenção ao mundo a sua volta e observância de si mesmo. Esse crescimento dentro das pessoas é tão imperceptível que passa desapercebido aos olhos de outras.
Para mim, a rotina de estudos e pesquisas, de trabalho e de incontáveis relações não só tem me tornado uma intelectual melhor e uma profissional mais competente, mas um ser humano melhor. Aprendi coisas que não sei se aprenderia de outra forma, em outra rotina.
Aprendi a ser mais segura, e a não ser segura demais; aprendi a acreditar em mim, e a não acreditar demais; aprendi a passar dos meus limites, e a respeitá-los; aprendi a passar noites em claro estudando e a trabalhar sorrindo na manhã seguinte; aprendi a dormir mais e a não dormir tanto; a comer mais e melhor, e respeitar esse momento... Aprendi que tudo tem um momento... Aprendi que às vezes é preciso dar um passo para trás, para na hora certa dar dois pra frente; e também dar dois passos para trás, para dar um pra frente no caminho certo... Aprendi que há coisas que não merecem atenção e há coisas que necessitam de atenção; aprendi a relaxar, e a não relaxar tanto assim; aprendi a dar tudo de mim, e quando não dar tanto assim; aprendi que não é tudo em que se deve dar tudo de si... Aprendi a fazer todo o possível para realizar algo, e a dar um jeito para resolver algo de última hora; aprendi a me parabenizar pelo meu esforço, e a não me julgar pelos jeitinhos que eu já dei; aprendi que não me julgar não significa me acomodar; aprendi a me desacelerar e a me acelerar quando necessário fosse... Aprendi que ver a magia do mundo é diferente de ser lunática, e que ver a bondade dos outros é diferente de ser ingênua... Aprendi que não precisamos aprender tudo sós... Aprendi a pedir ajuda, e quando não pedir; aprendi a dar ajuda, e nunca esperar nada em troca; aprendi a colocar meu conhecimento e a admitir minha ignorância; aprendi a estar em grupo e a estar comigo mesma, em um grupo; aprendi a estar sozinha, a ver a beleza disso e a prova por trás disso; aprendi a exigir de mim, a não exigir tanto assim e quando/ o que exigir dos outros; aprendi a falar e também a calar; aprendi a deixar que o outro se sobressaia, mesmo que eu saiba mais que ele; aprendi que sempre haverá alguém que saberá o que você não sabe e o contrário também... Aprendi que não existe isso de não gostar de alguém; aprendi a gostar de quem gosta de mim ainda que eu não goste; aprendi a não dar atenção ao fato de existirem pessoas que não sabem apreciar o que há de bonito na gente; aprendi a diferença entre recalque e autopreservação... Aprendi a gostar mais de mim à medida que as pessoas gostavam de mim; aprendi a gostar mais das pessoas à medida que eu as via e as ouvia; aprendi a deixar as pessoas falarem mesmo que eu não quisesse ouvir – às vezes elas precisam – e a não ouvir algumas outras pessoas falando – às vezes é o ego delas, não elas... Aprendi a calar minhas vozes interiores... Aprendi que todos somos bonitos, inteligentes e agradáveis de alguma forma... Aprendi a acreditar nas minhas capacidades; que de onde tirei força posso tirar mais; aprendi que sempre se pode fazer mais... Aprendi a diferença entre dar valor ao que fazemos e sermos vaidosos; e que a diferença entre saber que sabe e ser soberbo é muito tênue; aprendi que não precisamos fazer os soberbos descerem de seus pedestais e nem os vaidosos se olharem melhor no espelho, a vida ensina a todos nós... Aprendi a calar o meu orgulho quando outros estavam pisando nele; aprendi que ser humilde é diferente de ser otário. Aprendi que não devemos nos preocupar com as máscaras alheias, e sim com as que usamos para nos enganar a nós mesmos; aprendi que não interessa quem é melhor que quem, porque as pessoas só trocam é de defeito... Aprendi que sim, todos têm defeitos, mas que todos, sem exceção, temos qualidades; aprendi que todos têm algo válido a dizer, ainda que pouco; aprendi que quem sabe menos que eu, hoje, pode saber mais amanhã, e vice-versa; aprendi que toda opinião importa, ainda que não concordemos com ela; aprendi que todo conhecimento é relevante, ainda que não queiramos aprender; aprendi que minha verdade, pode não ser a do outro, e que devo respeitar o seu modo de ver o mundo; quem sabe eu até goste e mude de visão; aprendi que por mais que não pareça, todos têm algo a nos ensinar... Aprendi que sou pequena. Aprendi que sou grande, mesmo na minha pequenez; e que todos merecem respeito, mesmo nas suas pequenezes; aprendi a me amar mesmo sendo pequena, porque também sou muito grande, e a não me amar demais por isso... Aprendi a medida da minha intensidade, e a medida da minha indiferença; aprendi o tamanho da minha sensibilidade e a cegueira da insensibilidade... Aprendi a me importar com o que é importante; aprendi a me preocupar e a não me preocupar tanto assim; aprendi a me esforçar sempre mais, e a nem sempre me esforçar tanto assim... Aprendi que existe a medida certa, mas que cada um tem uma, e todas devo respeitar. Aprendi que quanto mais sei, mais quero saber; que quanto mais li, mais tenho que ler; que quanto mais escrevi, mais posso escrever; e que quanto mais aprendi, mais devo aprender. Aprendi que às vezes também é preciso desaprender. Aprendi que vivo aprendendo todas essas coisas e muito mais, que nunca isso vai parar e que nada tem de exaustivo, porque aprendi que cansaço passa e a transformação fica. Porque aprendi que nada é em vão, tudo tem um propósito na harmonia do universo. Mas aprendi que por mais que tudo tenha propósito não devo ficar paranoica, nem ansiosa, nem intensa demais... Aprendi a zerar, a relaxar, a deixar estar... ZzZzz -_- Aprendi que não precisamos provar o que estamos sempre aprendendo. Aprendi a ser, e querer ser, sempre melhor, sem dor, sem estresse, sem perder de sorrir.
Manuella Mirna